A Pior Festa de Sua Vida
- Érika Costa
- 19 de set. de 2016
- 4 min de leitura
Ela tinha seus motivos para não estar em seus melhores dias, mas mesmo assim, aceitou o convite, de um dos amigos, pra uma festa na casa de alguém que nem tinha importância. Chegando lá, se viu sozinha, entre desconhecidos, bebidas e drogas mais pesadas do que as que já estava acostumada a ver os amigos usando.
Conheceu pessoas, começou a beber e a conversar, afinal, não é o que se faz em festas?
Encontrou companhia em um casal. O homem tinha por volta de uns 30 anos e a mulher mais ou menos 17. Eles conversaram bastante, e ela logo se sentiu mal, mesmo sem ter bebido o suficiente pra isso. Chegou a conclusão de que ficar bêbada e sozinha, não seria uma boa ideia e resolveu parar de beber.
A indisposição persistiu e ela foi ao banheiro. Tentou vomitar, porém não conseguiu e não forçou. Deveria ter insistido, talvez se sentisse melhor. Ela sabia o quanto tinha ingerido e sabia também, que não era o bastante para estar naquele estado. Estava assim, não por ter bebido além da conta, mas por terem colocado drogas em sua bebida.
Os sintomas se agravaram e ela perdia vagarosamente parte dos sentidos.
“E aí, minha cabeça começou a doer muito, ficou tão pesada que eu não conseguia me virar pros lados, estava tudo rodando.”
Resolveu sair do banheiro, mas não conseguia se manter de pé. Foi agachada se arrastando pela parede até onde pôde. Logo adiante, o homem que estava conversando com ela, se aproximou e ofereceu ajuda. Ela não tinha condições de aceitar ou recusar, ele tinha mais que o dobro do seu tamanho e pesava uns 90 quilos. Ele a pegou ela nos braços, e junto à namorada, a levou pra um dos quartos da casa.
“Eles me levaram pra um quarto e eu me deitei, ele me deixou deitada, o quarto estava escuro, eu estava deitada de barriga pra baixo. Eu não conseguia fazer nada, eu estava morta. Estava ouvindo tudo o que acontecia, mas não conseguia reagir. Eu ouvia tudo, mas até a visão fica diferente, sabe? Fica tudo meio embaçado, sabe quando você está sonhando, mas acordada ao mesmo tempo? Em que você fica naquele meio, naquele estado? Exatamente assim que eu estava. E me lembro que senti eles tirarem meus sapatos, e eu senti um peso muito grande em cima de mim. Eu não conseguia me mexer de jeito nenhum. Era ele em cima de mim. Eu me lembro do cheiro dele, sabe. É um cheiro horrível, eu sinto esse cheiro, em pessoas que usam esse perfume na rua, me dá um enjoo maldito. Estavam os dois no quarto.”
Não aconteceu a penetração com órgão genital dele, mas inúmeros outros objetos aleatórios, encontrados no quarto, entraram nela. Coisas que ela nem foi capaz de identificar. Ambos participaram.
Um tempo depois, o amigo que a tinha acompanhado até a festa, apareceu batendo na porta, procurando por ela. O homem a entregou nos braços do rapaz e pediu que ele levasse para casa, pois ela não está bem.
Ao acordar no dia seguinte, ela sentiu dores por todo o corpo, viu os hematomas espalhados.
“Parecia que eu tinha sido atropelada, sério. Meu corpo inteiro doía, meu quadril, minha cintura, estavam roxos, como se eu tivesse apanhado. Eu estava muito roxa, e meu corpo inteiro doía, doía tudo, doía muito. Eu fui tomar banho. Nessa hora que eu me dei conta de que isso tinha acontecido. Porque eu não sabia se tinha acontecido ou não. No banho, eu sangrei muito. Parei e falei: Porra, aconteceu! Eu fiquei duas horas no banho, eu não consegui sair do banheiro. Eu não conseguia sair do chuveiro. Sabe quando você quer tirar de você, como se a água fosse te limpar? Mas não adiantou. Eu não falei com a minha mãe, nem com ninguém. Eu fiquei me sentindo muito mal, muito suja por muito tempo. Era como se as pessoas olhassem pra mim e soubessem o que tinha acontecido. Foi aí que eu comecei a usar cocaína. Foram uns dois anos meio fodidos. Fiquei um bom tempo usando cocaína. Ela faz com que você não sinta nada, você se esquece e não sente nada tanto fisicamente, quanto emocionalmente. Só que quando o efeito acaba, é pior, vem três vezes mais forte. Foi péssimo. Eu emagreci 20 quilos, 10 em um ano e 10 em um mês.”
Todas as pessoas que estavam presentes na festa, acham que eles fizeram um “ménage”, com o consentimento dela, por terem a visto sair do quarto desacordada.
“Eu nunca falei sobre isso com ninguém. Ninguém mesmo, nem com meus irmãos, meus pais, nenhum amigo. Essa é uma questão interessante porque, geralmente, as pessoas acham que pra quem é esclarecido e com mais informações, é mais fácil falar. Eu sei que tem que denunciar, que tem que falar, eu sei de tudo isso. Mas quando acontece, é complicado, é muito complicado. Você simplesmente não fala.
Não é uma coisa que eu deixe afetar a minha vida, não agora, porque eu me esqueci, é uma parte que eu apaguei da minha cabeça, então, é como se não existisse.”

Comments